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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

hoje, as coisas do mundo que eu não entendo,
parece que vieram todas pra dentro de mim.
a lua virou pra crescente, entrou em touro 12h,
a espinha do dia foi quebrada ao meio
e eu completei ano.
hoje fez sol e eu pensei em coisas como; como pode ser que
eu não saiba dizer em que ordem ficam nossos órgãos? se eu fosse esfaqueada nessa parte da barriga, atingiria o que?
de repente eu penso no meu gato
ele tem pulgas
penso em pulgas
sinto meu útero bem cheio e pesado - o útero eu sei onde fica -.
então é por isso que eu quis chorar.
imagino o que aconteceria se eu abrisse o Tinder agora (não abro)
penso em sexo
penso em pombos igrejas organizações não governamentais canetas stabilo
minha mãe meu irmão meu gato de novo que tem pulgas
a rua XV espíritos chá Tailândia 
e no fundo eu sei, no fundo eu nunca deixei de saber
que entender é se distanciar da vida
mas frequentemente esqueço disso.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

por essas ruas

entre os buracos do asfalto
entre os caminhões da oficina aqui da frente
nas telhas sujas do vizinho 
plantei.
poderia levar alguém pela mão, mostrando cada coisa que nasceu de mim nesse bairro
como um museu de memórias
diria: aqui morava a dona Mônica, a pessoa mais velha do mundo
que já era velha quando eu nasci
e que enfim morreu.
e essa rua do lado é pra reviver a cena de correr atrás do meu pai, completamente bêbado, eu só de calcinha e camiseta
e dizer vamos pra casa
e ouvir ele chorar não é minha casa, não é minha casa
só um pouco pra baixo de onde dei meu primeiro beijo, anos antes.
a grama na frente dessa empresa sentávamos e fumávamos maconha a noite inteira, falando coisas jovens, inventando absurdos 
e esse terreno baldio uma vez teve uma casa onde morava um homem que achávamos ser um lobisomem. 
minha rua tem esse cheiro por causa da fábrica de pão
o cachorro preto que ataca estranhos 
a carro do sonho, do churros, das frutas, dos ovos, o carro que troca tele-senas

não é minha casa, não é minha casa. 
e se eu pudesse botar no espaço
de uma forma doida, em algum lugar,
a temperatura dos seus olhos?
seria como andar em um lugar de folhas brancas enroscadas nos troncos 
em um escuro fechado, mata virgem
ouvindo tudo
e de repente o céu abrisse em lua (ninguém estava esperando)
e se isso quase fervesse meus ossos, seria como um olhar seu.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

"tão estranha é a vida sobre a terra"

partem de mim pensamentos que são atirados na rua: choveu a semana inteira na minha cidade 
e todos nós com a roupa suja acumulando.
escolho um sapato, dou umas batidas pra descobrir aranhas 
pego o guarda-chuva e vou pelo bairro, pelas beiradas alagadas do asfalto, intuindo que um dia vou sentir saudades daqui.
tem beleza nas cores escuras de chuva, afinal. (acho que fui vencida pelo cansaço)
porque a árvore fica verde escuro e o céu despeja uma luz rala
e isso parece que mata a sede 
das coisas. 

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

se escutássemos em profundidade a aspereza sincera e boa do que somos
imagino que a sensação seria como boiar em segurança num lugar perigoso.
as vezes, escutando, percebo que meu coração e tripas não são de carne
são mar cinza de dia nublado. 
de horizonte desolador por ter só água, mas bonito, bonito! 
fazendo um som que parece ter saído da garganta de deus, som de água desmanchando o medo, som de bilhões de grãos de areia.
não agitado; real e manso como um bicho. 
violento apenas porque violenta é a vida
e navegável.