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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

03/09/18 segunda 23h30
essa sou eu, com 22 anos. sem maquiagem, sem correção digital. aquilo ali atrás é uma cadeira de acumular bagunça. estou chapada. estou pensando sobre a eu de 19 anos. sinto que embruteci, tenho menos esperanças e expectativas. numa grande parte do tempo não gosto de mim, mas gosto de quem estou me tornando. esse ano decorei meu CPF. por dentro tenho sido agressiva. muitas coisas aconteceram essa ano e me sinto forte. estou no fim da faculdade. amo uma mulher de um jeito que nunca amei alguém antes. tenho sentido as coisas de um jeito estranho. me vejo mudar numa velocidade que as vezes não compreendo. sinto que meu cérebro envelheceu. pela primeira vez na vida, me preocupo com meu peso. me sinto estúpida por isso. ando confusa com o que vejo quando olho pra dentro. tenho boas (e poucas) amigas. tenho aprendido a admirar as pessoas de um jeito produtivo. essa sou eu, com 22 anos. parece, as vezes, que a pessoa que vou dormir nunca é a pessoa que acordo. está um pouco difícil escrever. a carta O Louco tem saído pra mim com frequência.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Eu deitaria contigo, dividindo um travesseiro
com uma luz que fosse apenas suficiente para saber os olhos abertos
apenas suficiente para ver o contorno das palavras da sua boca
e ouviria suas histórias por horas.
Eu tentaria te absorver com a pele
absorver seu cheiro, seu sotaque, o comprimento do seu cabelo e o seu sorriso lindo
pra continuar apaixonada quando você for embora.
E nesse dia eu aceitaria o modo como o tempo se comporta ao seu redor, a diluição das horas
efeito magnético de confundir relógios
para que acontecesse nossa despedida mais bonita
(não coloquei ponto final)

sábado, 28 de julho de 2018

Tocamos as vezes, uns nos outros, em uma parte nossa que é normalmente muito protegida. Essa parte macia e frágil como a carne de um caranguejo por baixo da casca.
Tocamos quando o concreto se desmancha e o tempo deixa de ser uma linha reta
e quando confiamos no mundo como uma criança confia em um adulto.
Andamos assim com nossa vulnerabilidade, esbarrando-se com ternura crua e delicada
e enquanto não houver medo, não vai doer.

sábado, 7 de julho de 2018

lembro da minha gigante coleção de ossos, tirados de todos os lugares
ossos de pássaros, de peixes
e você, querendo imprimir em mim o tipo de lava que existe em você,
- nunca com palavras porque você gostava de manusear as coisas que existem no ar - quebrou-os tanto 
e os vizinhos viram uma farinha de ossos caírem oito andares, sujando uma janela de cada vez.
essas suas ideias sempre causam um tipo de suspensão de alguma coisa
pra mim a farinha ficou suspensa por dias
os pedacinhos maiores lá embaixo, na calçada, pedacinhos de estrutura de corpo
não apenas de um animal mas de vários
e uma coisa dentro de mim suspensa, uma coisa muito sútil como uma fumaça parada no ar
o tempo um pouco parado



. .,      .    . ...

domingo, 1 de julho de 2018

em mim habita uma coisa antiga que quer sair
e ela não se importaria se tivesse que rasgar minha garganta ou peito. eu preferiria que ela fizesse; saísse com violência, sem usar os caminhos usuais do corpo
mas ela é paciente essa coisa
ela assiste minhas tentativas de deixá-la sair pelos olhos e reconhece meu esforço
mesmo eu sabendo que ela é grande demais e nunca seria tão fácil.
em dias de lua cheia é pior
é como se eu fosse sempre um bicho grávido, quase parindo
e a coisa se revira em mim como os bebês se reviram na hora de nascer,
mas ela nunca nasce
(na cidade as vezes penso que vi a lua
mas quando olho direito é um poste ou uma placa do burguer king).
essa coisa antiga é muito sincera e crua. ela deve ser feita de terra e carne e pulsar de um jeito brusco, com uns olhos imensos que olham sempre (esses olhos eu sinto no fundo de tudo).
se eu ficar bem quieta, ouço dentro aqui
ela não fala
tem um som estridente de silêncio e gargalhada
eu queria poder tirar minha pele como quem tira uma fantasia
e deixar a coisa existir.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

ontem você perguntou o que eu estava pensando
imagino que sua curiosidade pequena abarque as vezes meu silêncio 
e eu quis perguntar se você sentia a sutileza da vida
se você achava engraçada ou assustadora ou os dois.
perguntei mentalmente se você também sente que é tão imenso viver não sabendo do segundo seguinte
não sabendo se um avião despencará do céu em cima da cama
se nossos corações ainda estarão inteiros bombeando bombeando
não sabendo se uma pessoa na china vai apertar um botão que explodirá o mundo
não sabendo se eu vou levantar abruptamente a cabeça do seu colo e te dar um beijo
não sabendo
e enquanto eu te falava isso mentalmente você perguntou "o que nós vamos fazer agora?"
o que nós vamos fazer agora meu deus
se isso é a vida, abrupta engraçada assustadora 
cheia de segundos seguintes, como é que alguém poderia responder isso?
disse "não sei" e foi muito sincero.

terça-feira, 15 de maio de 2018

Deslizo
na incerteza, na inverdade 
escapo
Esticando o corpo tento alcançar o que fui
Deslizo na dúvida e no medo mas sei que habito no amor
sei e sinto
Cozinho coisas, tomo cerveja, faço sexo e limpo a casa quase sempre esquecida de mim
Mas me preocupo muito pouco e raramente
porque não tenho fim
porque estou, 
sei e sinto.

sexta-feira, 16 de março de 2018

uma coisa que todo mundo sabe é que não é possível que dois corpos ocupem o mesmo lugar no espaço
eu nunca pretendi ser uma grande cientista 
mas sinto que no meu quarto escuro ou na sua cama embaixo da janela
a gente chega perto de conseguir.
pensei em contar pra comunidade acadêmica, em relatos oficiais
sobre sua pele mansa
sobre como eu perco a capacidade de definir o limite de onde termina meu corpo e começa o seu.
escreveria assim: "as vezes eu me sinto tão ela que não sei qual de nós duas teve um pensamento
a voz dela ecoa na minha garganta
e nós temos o mesmo tamanho, cor, temperatura."
mas aí penso que cientistas observadores importantes seriam enviados, e a coisa não aconteceria
porque normalmente, eu sou eu e você é você
cada uma ocupando seu próprio lugar.
mas nessas horas de quebrar as leis, é necessário que ninguém saiba, que ninguém esteja lá
além do meu-seu corpo.

quinta-feira, 1 de março de 2018

vamos pela vida juntos
porque os mesmos segundos passam para todos.
caminhamos através do tempo
do útero até o fim,
todos.
e se o caminho pudesse nos fazer perder a pressa
e fossemos arrebatados pela calma
nos olharíamos? 
eu tento
eu tento eu tento
manter no peito um buraco lindo
uma malha fina e vazada
um espaço aberto pra que o vento passe e assovie 
e pra que o mundo passe e as pessoas passem
as vezes realmente consigo
tudo me atravessa e eu também atravesso o buraco aberto no peito de tudo.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

hoje, no caminho pra te encontrar,
pensei nas coisas absurdas que você fala. 
ri um riso de ternura absoluta porque essas coisas provocam chuva, 
como se eu me desfizesse em pedaços de água 
ou como se fosse você chovendo aqui dentro
alagando aqui dentro
criando poças
e caminhando descalça em mim.
por um tempo senti um medo afiado, familiar
medo de escancarar minha cabeça e minha casa, de te ver entrar com sua ventania,
mas não tenho mais.
porque não consigo imaginar seus olhos mansinhos me dirigindo raiva,
porque eu preferiria sentir muita dor antes de te causar alguma,
e sobretudo porque não vejo nada que não seja beleza ao redor seu.
(só tenho medo ainda de nunca mais conseguir escrever outra coisa que não seja você.)

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

entre suas esquinas
os vãos dos seus ossos 
e a temperatura da sua respiração
é como se eu tivesse que descobrir algo.
me deixo, investigação deliciosa 
flutuando nessa luz abstrata e quente que sai de dentro de você, comendo suas cores
tentando fundir minha pele com a sua
e deslizar a mão ou a boca entre suas coxas pra te ver morder o travesseiro
tem sido uma das minhas atividades preferidas.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

hoje, as coisas do mundo que eu não entendo,
parece que vieram todas pra dentro de mim.
a lua virou pra crescente, entrou em touro 12h,
a espinha do dia foi quebrada ao meio
e eu completei ano.
hoje fez sol e eu pensei em coisas como; como pode ser que
eu não saiba dizer em que ordem ficam nossos órgãos? se eu fosse esfaqueada nessa parte da barriga, atingiria o que?
de repente eu penso no meu gato
ele tem pulgas
penso em pulgas
sinto meu útero bem cheio e pesado - o útero eu sei onde fica -.
então é por isso que eu quis chorar.
imagino o que aconteceria se eu abrisse o Tinder agora (não abro)
penso em sexo
penso em pombos igrejas organizações não governamentais canetas stabilo
minha mãe meu irmão meu gato de novo que tem pulgas
a rua XV espíritos chá Tailândia 
e no fundo eu sei, no fundo eu nunca deixei de saber
que entender é se distanciar da vida
mas frequentemente esqueço disso.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

por essas ruas

entre os buracos do asfalto
entre os caminhões da oficina aqui da frente
nas telhas sujas do vizinho 
plantei.
poderia levar alguém pela mão, mostrando cada coisa que nasceu de mim nesse bairro
como um museu de memórias
diria: aqui morava a dona Mônica, a pessoa mais velha do mundo
que já era velha quando eu nasci
e que enfim morreu.
e essa rua do lado é pra reviver a cena de correr atrás do meu pai, completamente bêbado, eu só de calcinha e camiseta
e dizer vamos pra casa
e ouvir ele chorar não é minha casa, não é minha casa
só um pouco pra baixo de onde dei meu primeiro beijo, anos antes.
a grama na frente dessa empresa sentávamos e fumávamos maconha a noite inteira, falando coisas jovens, inventando absurdos 
e esse terreno baldio uma vez teve uma casa onde morava um homem que achávamos ser um lobisomem. 
minha rua tem esse cheiro por causa da fábrica de pão
o cachorro preto que ataca estranhos 
a carro do sonho, do churros, das frutas, dos ovos, o carro que troca tele-senas

não é minha casa, não é minha casa. 
e se eu pudesse botar no espaço
de uma forma doida, em algum lugar,
a temperatura dos seus olhos?
seria como andar em um lugar de folhas brancas enroscadas nos troncos 
em um escuro fechado, mata virgem
ouvindo tudo
e de repente o céu abrisse em lua (ninguém estava esperando)
e se isso quase fervesse meus ossos, seria como um olhar seu.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

"tão estranha é a vida sobre a terra"

partem de mim pensamentos que são atirados na rua: choveu a semana inteira na minha cidade 
e todos nós com a roupa suja acumulando.
escolho um sapato, dou umas batidas pra descobrir aranhas 
pego o guarda-chuva e vou pelo bairro, pelas beiradas alagadas do asfalto, intuindo que um dia vou sentir saudades daqui.
tem beleza nas cores escuras de chuva, afinal. (acho que fui vencida pelo cansaço)
porque a árvore fica verde escuro e o céu despeja uma luz rala
e isso parece que mata a sede 
das coisas. 

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

se escutássemos em profundidade a aspereza sincera e boa do que somos
imagino que a sensação seria como boiar em segurança num lugar perigoso.
as vezes, escutando, percebo que meu coração e tripas não são de carne
são mar cinza de dia nublado. 
de horizonte desolador por ter só água, mas bonito, bonito! 
fazendo um som que parece ter saído da garganta de deus, som de água desmanchando o medo, som de bilhões de grãos de areia.
não agitado; real e manso como um bicho. 
violento apenas porque violenta é a vida
e navegável.