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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

maria caminhou sozinha muito longe, como se quisesse se livrar das próprias pernas. 
no caminho, do lado de fora de maria, acontecia o trânsito da cidade, um por de sol poluído e bonito, barulho de ônibus cheio.
e dentro de maria corria muita água. dentro dela frutas apodreciam e abelhas voavam bem livres.
alguns pensamentos deixavam maria irritada, porque ficamos irritados com a incapacidade de compreender como as coisas realmente funcionam. sem querer ela perguntou em voz alta: será que na maior parte do tempo estamos fingindo, jogando um jogo sem entender as regras, bagunçando o tabuleiro, dizendo que estamos ganhando? 
uma velha mais ou menos ouviu e mais ou menos pensou sobre isso, mas quando quis olhar maria, ela já tinha caminhado mais um monte.
será que o prêmio é, afinal, a vida pura?
quis que sua cabeça funcionasse igual quando estamos quase dormindo, e entendemos tudo. na noite passada, antes de dormir, maria entendeu que é necessário contemplar a vida e aceitá-la como ela se apresenta, já que não temos outra coisa. 
viu um céu carregado de água de verão e lembrou da roupa no varal. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Sinto a vida como a tecitura dos anos que vão ficando ao longo do passado.
Sinto a vida ao abrir a janela e saber que abri um dos olhos da noite.
E amo a vida com a mesma força que a odeio, com bolas de choro na garganta.
Amo a falta de novidade nas estações que se repetem como palavras que se repetem. Como a cor da minha pele em janeiro.
Amo o verde brilhante denso comestível das florestas como odeio o sofrimento do mundo. E minhas células tem paciência de alma.
As vezes não me preocupo - sinto sem saber que estamos todos destinados à plenitude contente do vazio.
E as vezes me preocupo tanto que desmorono de estrutura enfraquecida.
Vivo com a delicadeza que uso para segurar bebês no colo, vivo as vezes em tons pastéis, vivo as vezes bebendo vinho, vivo consciente da morte.
Sobretudo vivo muito.