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quinta-feira, 21 de abril de 2016

Não me senti capaz de englobar a cidade entre as pernas por ter um passo muito curto. Empurrava o chão e parecia brincadeira. Poucos centímetros de asfalto ficavam atrás de mim, quilômetros de prédios acima, engolindo o céu, engolindo a mim. Mas minha pressa é pequena e minha vontade ofusca os faróis e postes. Minha vontade me faria engolir a fumaça e brotar dela coisas lindas. Rasgaria o asfalto e embaixo dele a terra seria vermelha, e as sementes acordariam. Minha vontade adoçaria as frutas, curaria as mulheres. Os prédios ruiriam com violência e calma. Os presidentes ficariam nus. Minha vontade correria a cidade com tamanha velocidade que as pessoas julgariam se tratar de um dilúvio, e teriam medo de morrer (não morreriam). Aqueceria as bocas dos que falam com frieza. Minha vontade seria uma parede forte, grande, imensa, contra a qual as palavras de ódio bateriam e virariam nada. A água dos rios cinzas viraria espelho e a limpeza para nossa vergonha. As raízes quebrariam as calçadas. Minha vontade faria chover um dia inteiro pra que ninguém e nada saísse seco. Minha vontade é a carne viva do mundo.