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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

antes do primeiro quarto de lua, como manda a tua intuição.

(pra curar, não demoro e vou te embalar no mar. no sal que tira toda a maquiagem e poeira dos dias)

vou jogar muita coisa fora. algumas coisas tentarão segurar-se, agarrar forte as paredes do meu crânio, resistir aos movimentos peristálticos. algumas delas vão mesmo implorar, numa tentativa quase bem sucedida de ficar fora do fluxo de expulsão. e eu talvez quase dê ouvidos, mas prosseguirei. não demonstrarei piedade (ainda que sinta alguma) nem pelo menor segundo que existe.
as ruas estarão alagadas com os meus restos, alagadas das coisas que joguei fora. pode ser que alguém, que estava passando, veja a quinquilharia e queira uma coisa ou duas e as pegue. o que sobrar, viajará e desaguará no lugar onde os restos desaguam.
no fim, eu e minha casa estaremos vazias e sangrando. com marcas de papel de parede arrancado. perceberei que joguei algumas coisas importantes fora, como pedaços da minha carne e até alguma lasca de um órgão vital, mas serei resiliente. estarei em carne viva e serei resiliente.
será tudo muito, muito dolorido, e para me curar, deitarei por cima e envolta na e em volta da e sob a manta morna que o mar é.