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terça-feira, 6 de outubro de 2015

sagrado adormece

embora eu não lhe dê atenção
se o fizesse poderia ouvir um tambor forte de terra
um rio longe chamando meu nome
uma dor no útero como se a lua inteira se revirasse e retorcesse em mim
uma vontade de errar
os pés quentes demais pedindo chão ou areia
os pesamentos navegantes

embora eu ignore minha alma
sinto Netuno mudar de posição
me sinto alinhar quando a coluna ereta
sinto força na arruda e nas outras ervas mágicas
e todo o resto que existe em mim e em todo resto em que eu existo
e existindo em uníssona unidade tamborilar a vida
sem saber o que é eu e o que é outro
embora os olhos fechados

peito-maré

se alguém pensa que eu vou sucumbir, que vou afundar
anunciarei partida e içarei minhas velas tão alto que deus vai reclamar.
e remarei tão rápido que virarei um pontinho alcançando o horizonte e logo não serei mais visível. e não sentirei remorso ou saudades e nem pensarei em quem deixei acenando na praia.
me entregarei com graça às correntes e as marés que me arrebatarão e dormirei sozinha na proa, sendo guiada pr'onde for que o vento queira, toda iluminada nua coberta de sol.
e quando estiver tão longe, derramarei as últimas lágrimas pra juntar meu sal com o sal do mar, e deixarei que Iemanjá sopre suave um vento que seque meu rosto e aqueça meu pensar.
e então, quem sabe, um dia eu afunde. vire morada ou alimento pra peixe, coral, sereia.