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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

no peito dos seres das flores

Entro no silêncio verde. A primeira vista é tudo imóvel. Faz frio, mas não o sinto. Ao contrário, sinto as raízes úmidas e mornas.
O barulho dos meus passos dispara alarmes: "intrusa! intrusa!" os insetos gritam. Mas abrandam com a dúvida "intrusa?..."
e uma hora me aceitam.
Cipós balançam com delicadeza, como que ninando alguém. Galhos se juntam quase formando uma fortaleza, por onde só as aranhas passam pra costurar ali suas teias.
Sou recebida com a peraltagem dos gnomos. Eles me pedem "tira o sapato." Diferente do que se possa pensar, eles não usam sapatos. Nem chapéus. Nem qualquer roupa. Andam nus. No máximo usam flores enroscadas nos pelos.
Obedeço. Sinto o cheiro dos cogumelos que brotam debaixo das folhas molhadas do chão. Salão de dança das fadas. (É raro que pisem no chão, as fadas. Quando pisam é pra dançar. Quando dançam, semeiam cogumelos.)
Sinto-me bêbada. Sei que não tem a ver com nada que eu tenha tomado; tem a ver com o crepitar das folhas, lá em cima de tudo. Com os sapos do rio. Com a terra molhada grudada nas plantas dos meus pés. Com as árvores que caíram mortas e ficam na horizontal da floresta, da tão vertical floresta.
Aproximo meu rosto de um musgo que cresce num tronco de árvore. Ele me beija; é uma despedida. Tchau criaturas.
A claridade do descampado é como um soco no estômago.