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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

des e vantagens de ter a minha estatura

por algum motivo pisam mais no meu pé que no de outras pessoas
tenho que pedir para que as pessoas não vão tão fundo no mar, porque não me dá pé
barras de calças sempre sujas e rasgadas
comer menos amoras porque não alcanço as melhores, que ficam mais alto na árvore
pontas dos tênis estragam muito rápido de tanto ficar na ponta do pé
beijar pessoas altas
piadas que já ouvi
as pessoas acham que podem me pegar no colo



abraços são mais gostosos porque me aninho em qualquer peito
dificilmente eu machuco alguém
facilmente abro caminho entre multidões
sempre querem dançar de par comigo
tenho muitas saias compridas
durmo confortavelmente em quase qualquer lugar
pareço fofa xingando
ninguém nega se eu peço pra me pegarem no colo

domingo, 30 de agosto de 2015

física

somos coisas muito orgânicas. com nossos pelos, quenturas, toda essa água.
suor, gengivas, ossos. minúsculas veias aparentes.
e a alquimia tão molhada que os corpos fazem com a comida.
gordura embaixo da pele, endométrios que descamam e vivos sacos escrotais. ar quente saindo da boca. todos os tubos de carne que transportam, buscam, trocam, eliminam. 
e fedemos tanto, de corpo e palavra. 
hormônios. bolhas de sangue. tumores, doenças. 
impressões digitais. porra.
identificações 

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

no peito dos seres das flores

Entro no silêncio verde. A primeira vista é tudo imóvel. Faz frio, mas não o sinto. Ao contrário, sinto as raízes úmidas e mornas.
O barulho dos meus passos dispara alarmes: "intrusa! intrusa!" os insetos gritam. Mas abrandam com a dúvida "intrusa?..."
e uma hora me aceitam.
Cipós balançam com delicadeza, como que ninando alguém. Galhos se juntam quase formando uma fortaleza, por onde só as aranhas passam pra costurar ali suas teias.
Sou recebida com a peraltagem dos gnomos. Eles me pedem "tira o sapato." Diferente do que se possa pensar, eles não usam sapatos. Nem chapéus. Nem qualquer roupa. Andam nus. No máximo usam flores enroscadas nos pelos.
Obedeço. Sinto o cheiro dos cogumelos que brotam debaixo das folhas molhadas do chão. Salão de dança das fadas. (É raro que pisem no chão, as fadas. Quando pisam é pra dançar. Quando dançam, semeiam cogumelos.)
Sinto-me bêbada. Sei que não tem a ver com nada que eu tenha tomado; tem a ver com o crepitar das folhas, lá em cima de tudo. Com os sapos do rio. Com a terra molhada grudada nas plantas dos meus pés. Com as árvores que caíram mortas e ficam na horizontal da floresta, da tão vertical floresta.
Aproximo meu rosto de um musgo que cresce num tronco de árvore. Ele me beija; é uma despedida. Tchau criaturas.
A claridade do descampado é como um soco no estômago.