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segunda-feira, 27 de abril de 2015

amoralua

Lua.
Te disse inconstante e usei tuas fases pra chamar meu lirismo. Me dei às marés, me fiz o abrir de ciclos, me fiz o fechar de ciclos.
Depois pensei que você não é inconstante. Porque sei sempre que depois de desaparecer, você aparece. Depois de diminuir, você cresce. Pensei que podia te prever.
Mas não posso. Não sei que cor terá amanhã. Não sei se poderei te ver da minha janela ou terei que procurá-la. E se procurá-la, não sei se te acharei entre as nuvens da cidade.
Mas tem uma tristeza que você não carrega. A tristeza da passagem do tempo. A tristeza fina, como garoa, que sinto ao ver fotos muito antigas, de pessoas que nunca conheci, que podem estar mortas ou muito velhas. A tristeza de imaginar o que pensavam, sobre o que falavam, quais piadas contavam. Quem amavam ou o que almoçaram naquele dia. Onde nasceram e onde foram enterradas, e por que foram enterradas, e SE foram enterradas.
E todas as pessoas antigas olharam pra você e te chamaram bonita.
Você me engana, Lua, fazendo parecer que o tempo não passa. Mas passa. E quantas faíscas você guarda.

domingo, 26 de abril de 2015

a boêmia burguesa

voltava, montada em sapatilhas delicadas, de um aniversário de um tio meio rico. não havia comido bem porque esse tipo de gente não come. usava um chapéu grande apesar da falta de sol que as noites geralmente tem. o pai a deixou de carro na frente da casa de uma amiga e partiu. assim que o carro virou a esquina, ela desceu a rua até um boteco cheio de gente triste, embriagada, ouvindo música alta pra não pensar. sem nenhuma empatia por aquele subordinado atrás do balcão, pediu a cerveja mais barata. e depois outra, e depois outra, e depois fumou maconha, e depois outra. deixou copos marcados de batom e sorriu para estranhos em troca de cigarros. seduziu por tédio alguns homens com quem ficou e alguma mulheres com quem não ficou.
o bar fechou e o dia quis amanhecer. ela vagou um pouco, ébria feito qualquer bêbado perdido, por ruas perigosas e que ela não sabia o nome.
chegou em casa meio sem querer e o pai fingiu que não sentiu o cheiro de quem não foi na casa de amiga nenhuma.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Não quero só contar com A Sorte. Quero confiar de vontade aberta em toda ordem de sortes e azares. Sair de casa sem saber o horário do ônibus e pegá-lo a tempo mesmo assim. E ser presenteada pela sorte com boas fotos, sem saber fotografar. Sair sem blusa confiando que existir é quente.
Defender com veemência a boa-fé do acaso e a casualidade da rua.
E desejar "boa sorte" com tanta sinceridade quanto eu dispor. 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Nem o poste que fica sempre aceso (nos dias de sol, ainda assim)
nem a criança no parquinho vazio
nem as casas abertas dos pássaros de barro
nada me acende (nem ascende, nem transcende)