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domingo, 30 de novembro de 2014

composição de imagens destruidoras;
cobrir de terra um canteiro de flores
colocar um passarinho numa gaiola perto da janela, para que saiba o quão livre ele não é
plantar girassóis em quartos escuros
cortar a língua com papel.

porque eu mesma, nesse instante, só ando prestando mesmo para destruir

[isso é um relatório] O assassinato do subjetivo será o seguinte

Sem menções à qualquer coisa pessoal demais. É permitido palavras rápidas sobre o tempo, algum objeto, alguma pergunta sobre onde fica o banheiro. Mais que isso corre o risco de não morrer.
Proibido abraços longos ou sinceros. Abraços breves de meio corpo na hora de dar tchau são permitidos, porém quase perigosos. Expressamente proibido contato visual significante.
Toques de mãos distraídas nunca matariam, como o esperado. Ao contrário. Deixariam viver.
É permitido quaisquer pensamentos de qualquer ordem. É proibido demonstrá-los.
Preferível que qualquer interação seja permeada de piadas, para que se mantenha a distância necessária.
Proibido ler-se.

sábado, 29 de novembro de 2014

Por todo tipo de fumaça que me acalma
meacalma
minha calma
mim acalma
a minha calma
a mim acalma
alma clama
calma, alma.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Hoje acordei e dentes-de-leão flutuavam lá fora. (pensamentos flutuantes abstratos impossíveis)
Abri a janela pra que algum entrasse, mas eles viajam tão rápido. 
Eu te amo, mundo. Você é redondo. Você é percorrível.
Pessoas são tanto quanto, em escalas exageradamente maiores. Pessoas são cosmos inteiros. Com suas nebulosas buracos negros mentes rodopiantes de galáxia.
Percorreria Maceió toda sem que nada ficasse para trás, mas nem em uma infinidade de anos te percorreria.
E nem quero.

domingo, 23 de novembro de 2014

Só eu me ficarei. (e uma secura de peito, de boca, de vulva, de alma.)

Nove horas de amor incondicional. Aproximados cinquenta beijos extremamente sinceros. Uma noite sendo o interesse principal. Duas garrafas de cerveja durando uma vida. Duas esquinas de mãos tão sinceramente dadas.
Entrelaçamentos de corpos amáveis tão esquecíveis em dois dias ou pouco mais. Abismos que tem volta.
Todo mundo é ir-embora.

Sábado-domingo, 01h34min AM. A existência e suas incontáveis traições

Mundo ingrato, falso, baixo. Manipulador, egoísta. Que me faz sentir como se tivesse que tirar pilhas de cadáveres de uma estrada comprida. Eu que gritei ser tua filha. Ri do barulho dos rios seus.  Gostei de toda raiz, folha, fruto doce.
Eu que amei pisar em pedras e terra. E com qual força amei o mar, eu! Que nunca ousei conversar com estrelas por amor a você, pra que você não me sentisse distante. Eu que nunca invejei os pássaros ou os astronautas porque preferi ter raízes a asas. Eu que nadei nua em seus mares salgados. Eu, eu, eu, que te defendi dos seus filhos rebeldes! Eu que deitei sob o sol não pra sentir os raios; pra sentir o chão nas costas!
Vou negar seus ventos. Não vou sorrir pras tuas criaturas. E em nenhuma água vou parir.

Minha tristeza não é mensurável.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Relatório sobre o mar

O mar está grave. (Não como "ouvi um som grave", mas como "ontem aconteceu uma coisa grave.")
Escuto-o da minha cama numa madrugada insone. O mar grita. Os pensamentos pesam uma tonelada. O mar grita. Minha mandíbula dói e o mar, pelo menos, grita.
Hoje o mar não absorveu nenhum tristeza minha. Talvez porque tenha as suas próprias; a de ser horizonte.
O mar existe. Lá, antes do dia clarear. Sem sol ele ainda existe.
Mar sofre de amor pela Lua. Faz maré por ela.
Sozinho, grave, escuro, salgado. Gritando a noite.
Ando achando que o mar só existe mesmo a noite.


    (Sei seu segredo, mar. Descobri essa noite. Não vou contar, por amor. Não conto porque te amo. Te amo. Te amo. Te amo. Te amo. Te amo. Te amo.)
Branco. Pleno, nada. Existente, tanto quanto a força de vontade de uma pena. Duro como é água da chuva.

domingo, 9 de novembro de 2014

Se quiser, ouve. Ouve bem mas sem que eu precise falar.
Escuta sempre o que eu nunca digo.

domingo, 2 de novembro de 2014

Nessa vida extrauterina que nunca pedi à deus,
desde quando posso me lembrar
meu ser-sentir é uma ressaca, um vaivém oceânico;
antes um puxar forte, impiedoso,
aí o sopro, abandonar, expelir
abrasivo, ruidoso

sábado, 1 de novembro de 2014

Não posso com seus olhos dançantes.
Não posso.
Não sou nada perto deles que nem me miraram mas me destruíram.
Não posso com você, menina, que tem um sei-lá-o-que que arranca poesia de qualquer boca, qualquer mão, qualquer lápis, qualquer teclado, qualquer violão. E todos caem pelos seus olhos dançantes. Todos sucumbem e acabam fazendo arte pra você. Todos que te conhecem e não te conhecem.
E a mim resta apequenar-me, até quase não existir.