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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

os mendigos não aguentam mais poesia

tem gente que é material pra poesia. mendigos são, coitados.
esses dias olhei pra cara de um e o rosto dele dizia "não moça, por favor, não quero poesia não, obrigada, só quero comida mesmo, mas obrigada."
coitadinhos. quem lhes incumbiu esse fardo, ein? sei bem como pesa. eu que sou mulher e não consigo mais receber homenagens às nossas curvas formas.
não ter casa não é tão poético.
mas ter um teto de estrelas é.
desculpe senhor mendigo, não posso evitar. sua sujeira me sensibiliza. sua cama de papelão tão bem arrumada. seu cachorrinho amarelo. desculpe, desculpe, não tenho dinheiro, desculpe.

sábado, 20 de setembro de 2014

plantas e menina descartáveis

Penso que sou igual as sementes que germinei e morreram no dia seguinte. Minha dificuldade de cultivar flores é minha dificuldade de cultivar apreço, no solo-peito das pessoas.
Talvez seja a natureza me avisando; "é assim que te vêem, é assim que te vêem, é assim que..."




ou talvez eu venha com a etiqueta; "use 3 vezes e descarte."

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Indo

Tem gente que me decola. Tem gente que decola sozinha e eu nem vejo. Tem uns que decolam de mim.
Você é tão fugidio que nem sei se já pousou. Mas tudo bem porque vejo beleza no seu ar.
Tu-aéreo, tu-ventania. Vai ventar em outro lugar. Vai, se faça pena branca em furacão. Vai polinizar tuas mil outras flores. E não deixa nada aqui, por favor. Nem tua saudade quero, e também não leva a minha que é pra não pesar.
Dizem que árvore sem raiz não fica de pé. Mas você não é árvore, passarinho, é astronauta (cosmonauta?).
Nunca deixe que ninguém te crie raízes.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Entrava sempre pela porta como uma fumaça preta. Nos bolsos do sobretudo escuro trazia imponência, puríssima, pesada. Nos ombros, o peso de galáxias e a capacidade de jogá-lo em qualquer um, a qualquer momento, por qualquer descuido. Da língua rolavam palavras em forma de agulha, rasgando o ar como uma faca de chumbo rasgaria carne.
NÃO somos extraordinários.

domingo, 14 de setembro de 2014

Ter, no corpo, janelas
pra me deixar fugir
e arejar

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Hoje é meu último dia de vida.

Engraçado. Tenho 24 horas restantes de vida mas sinto a sensação de começo, não de fim. Sinto todas as horas que ainda estão por vir, mas não todos os anos que vão findar essa noite.
Hoje, pela primeira vez, estou presente. A iminência de não-mais-ser me fez aprender a ser inteiro, ser aqui, e ser agora. Minha vida inteira foi um ensaio para hoje.
Hoje fiquei sábio. Nesse próprio dia do fim da minha vida descobri como a vida é.
Hoje olhei pro céu e vi que cor ele realmente tem. A escuridão que meus olhos sabem que vão enxergar logo, me fez aprender a enxergar agora.
Sei que não sei de nada e que nunca soube, mas hoje aprendi que nunca vou saber.
Hoje aqui, amanhã não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei.
Morri.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

"DERAM A BOIA E PRONTO. NÃO ENSINARAM A NADAR."

POR QUE NASCI NESSE CORPO QUE PARECE NÃO ME COMPORTAR OU EU PAREÇO NÃO PREENCHE-LO? POR QUE TODOS PARECEM TER SE CONFORMADO COM ESSE MISTÉRIO INCONFORMÁVEL QUE É EXISTIR?






existir