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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tristeza lapidada de Eduardo

Eduardo era daqueles que você olha e acha que ele deixou a alma em algum beco ou loja pequena e poerenta. Era todo composto, andava dançando compassadamente numa marchinha contínua e encantadora. Nunca o vi de cabelo arrumado, tampouco com roupas passadas e sempre com a mesma calça jeans quase rasgando e toda suja. Era o que sabíamos dele. Era só o que todos sabiam dele, aliás.
Mais tarde suporíamos que ele nem sempre teria sido assim, alheio à tudo. Que alguma coisa terrível ou maravilhosa passou e levou a alma dele. Que na verdade aquela marchinha compassada e encantadora era tristeza em sua forma lapidada.
Antes disso porém, eu só olhava. Num desses dias normais ele sentou do meu lado, mais por falta de lugar do que outra coisa, e olhou bem pras minhas mãos nervosas batucando o gesso da parede.
-Você é uma menina bem curiosa, sabe.
Quis perguntar por que, mas por algum motivo eu achei que já deveria saber.
E nunca mais vimos o Eduardo.