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sábado, 25 de junho de 2011

pulsações da cidade - não coloque intensidade onde não há nada.

nasceu na terra
tudo que eu sou e tudo
ver você dormir
cresceu no sol, mas colheu na lua. quando a tua alma transbordou
você viu esse pássaro? porque ele está em todos os lugares
e tudo que fui. é mais que um nome ou um rosto. você não pode comprar a felicidade. roube-a
escrito de batom no vidro do espelho, corações de verdade não são quebrados. quer dizer que tudo que sou e que fui eu aprendi? eu sinto a sua falta todo santo dia.
não é triste? perguntou.
sem o verde morrem todas as cores.
a gente acostuma. Mon dessin ne représentait pas un chapeau, este é meu relatório sobre a importância.
opções?
and that's what kills you.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Não te acho arte.

Não acho. Não acho que você é luz nem que eu sentiria sua falta se você se metesse um dia na minha vida e decidisse ir embora. Não acho que te preciso e nem que preciso do seu jeito de achar defeito em tudo e acho que preciso cada vez menos da sua respiração.
Acho que você é tão controlado por fora mas passa muito tempo brigando com você mesmo por dentro.
Acho que alguém tinha que gritar com você, te fazer explodir, balançar essa paz tosca do caralho que você sempre tem contigo.
Eu NÃO sinto a sua falta.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

existia, porém.

Não sem pudor, ela existia. Existia sem jeito, com certa dificuldade, existir ardia. Existia, porém.
Às vezes ela tinha um sopro assim, quase que uma inspiração, mas logo passava, e ela voltava a ser nada.
Um dia ela acordou e as lágrimas da noite anterior já estavam secas. Pegou a arma do marido falecido e, por um segundo, parou de existir e viveu. E vivendo ela era inteira torpor. Vivendo, puxou o gatilho.
Nem mais vida e nem mais existência.
Alguns sentiram falta dela por algumas semanas, depois voltaram a só - sem gosto, sem vida, quase sem âmago - voltaram a só existir.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Era engraçado como ele tinha jeito com as palavras e mesmo assim as usava bem pouco. Acho que tudo ficava mais bonito quando saia da boca dele. Aliás todas as coisas ficavam mais bonitas quando se relacionavam com ele, de algum modo.
Não sei o que tinha esse guri. Era uma beleza além da aparência, além das covinhas.
Quando eu acordava ele com o cheiro de café da cozinha, e ele aparecia lá de cueca e cabelo bagunçado e eu dizia que ele acordava feio, não sei muito bem o que ele pensava. Sempre me dizia que era eu quem estava feia de blusão cinza e meias. Riamos.
Lembro das vezes que ele ficava vermelho quando era elogiado, ou talvez eu não soubesse elogiar.
A maior parte do tempo ficávamos dentro do apartamento branco e mofado, nunca sóbrios o suficiente pra eu lembrar o que fazíamos lá.
Foi assim que eu fui embora, também. Sem estar sóbria o suficiente pra lembrar porquê.

terça-feira, 7 de junho de 2011

                               eu sei que existem milhões de combinações de palavras pra descrever o que aconteceu aquela tarde, mas não me sinto capaz de encontrar nenhuma.

Era de tarde, quase escuro. Chovia desde manhã; e eu estava lá, parada, na porta de um teatro, esperando nem lembro o quê, no meio de um monte de vento e chuva e gente correndo. Fria, molhada, brava, de lábios sem cor que tremiam.
Algumas pessoas passaram, sem muita expressão, igual elas sempre são mesmo. Muitos nem olhavam pra mim. Eu pensava que dentro dos seus guarda chuvas e bem mais pra dentro das muitas roupas existiam milhões de histórias, medos, coisas pra fazer, viagens, cores, homens e mulheres inteiros que, pelo menos a grande maioria, eu nunca ia conhecer. Posso ter cruzado com um ou outro mais tarde, num dia de sol quem sabe. De qualquer maneira eu seria irreconhecível pra eles sem o cabelo no rosto e os lábios tremendo.
Depois de vários minutos exposta à uma potencial hipotermia e esperando o tal não-sei-o-quê, uma moça de cachinhos vermelhos molhados e com um nariz de palhaço saiu correndo do teatro, olhou pra mim meio de relance, e
sorriu.
Não que nunca tivessem sorrido pra mim.
Mas a maioria esmagadora das pessoas não ri pra uma menina molhada e mal humorada assim, sem esperar nada. A moça não riu pra uma máquina fotográfica, não riu pra dar oi pra algum conhecido, não riu pra ser simpática. Ela riu simples e puramente porque ela teve vontade de rir, porque ela tinha um nariz de palhaço e talvez por achar graça uma pessoinha lá, parada, nervosa, meio xingando sozinha a demora do não-sei-o-quê. Foi o primeiro e talvez o único sorriso sincero que já me deram. Parei de xingar. Sorri de volta. Quis um nariz de palhaço.
Quem eu estava esperando por longos minutos molhados chegou preparado pra uma crise histérica universal. Entrei devagar no carro e sentei sem bater a porta.
-Desculpa, desculpa, desculpa! Não queria demorar assim, juro, você tá ai toda branca de frio ó. Quer ir lá em casa pra se secar? Quer que eu ligue o ar quente? Quer me responder, caralho?
-Tô com frio.
-Eu sei.
-Sorriram pra mim.