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segunda-feira, 14 de março de 2011

Palavras flutuantes

Não acho que ele seja alguém ruim. É isso mesmo que ele quer que pensem e é isso mesmo que pensam, mas eu não acho, não. Porque as palavras dele flutuam. Se ele te mandar tomar no cu, a frase vai rolar devagar e flutuar, colorida por entre os lábios e pousar tão suavemente nos seus pés que até enjoa. E você vai ter vontade de sorrir. Alguém te manda tomar no cu e você vai sorrir.
Ele consegue fazer essas coisas, mesmo.
Ele não é ruim porque coisas pesadas não flutuam, e porque as palavras dele nunca pousam respingando coisas ruins. Algumas nem pousam. Ficam no ar. São essas partículas minúsculas que a gente vê na luz. Outras caem graciosamente desajeitadas.
Isso deve ser bondade.

sábado, 12 de março de 2011

Me quis tão livre das outras coisas que me tornei completamente prisioneira de mim mesma. Tento me livrar de mim.
E não dá, não dá, não dá, nunca dá.
O vento me quer livre, a fumaça me quer livre, até as calçadas me querem livre. As calçadas que estão só a mercê da gente. Mas é tanta pele, tanta alma, tanto sangue, tanta gente e pouca juliana. Alma existe? Não. Alma sangra.
Só sei que estou muito ocupada existindo, e existir me dá um enjôo do caralho. Hoje estou ocupada, existindo. Existir é não ser livre de mim.
E agora me deixo em paz.

quarta-feira, 2 de março de 2011

      Eu, sonolenta, em pé na beira de uma rocha alta. Parece que alguns gritavam "Não cai! Não cai!" mas eu dormia e caia. Dentro da minha cabeça de novo. Caia na sala de uma casa que não era minha e o homem saia de um quadro que não era meu. E tudo ficava escuro, então. Eu ouvia as vozes no andar de cima e sentia medo. "parem de jogar vida em mim!!" eu queria implorar, mas eu estava tão dentro da minha mente!...
Quando eu conseguia voltar, finalmente, pensava em qualquer coisa que me deixasse em pé ou que me fizesse cair pro lado oposto do abismo. Mas qualquer coisa real que eu pudesse pensar no momento era infinitamente mais abstrato que o próprio sonho. Então eu, mais um vez, despencava. E denovo. E denovo. Fiz pratos tilintarem e tudo que era habitual e seguro desapareceu. 3 minutos, e eu voltava. 3 minutos.