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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um ratinho semi-morto, uma criança e um pai de papel-alumínio.

Era uma vez um ratinho.
Era uma vez uma menininha de 6 anos que nunca chorava.
Era uma vez um pai bravo, ocupado e recluso.
Um dia [frio] o ratinho ficou semi-morto, e a menininha chorou. Ele vai morrer, mas ratos são tão fraquinhos e morrem bem rápido, afinal. Mas é certo que as lágrimas tem vontade própria, e insistem em escorrer quando a gente não quer que ninguém veja, só pra mostrarem que existem, e escorreram. Na frente do pai bravo cuja seriedade a menina tentava imitar. Ela estava com um corpinho frio tremendo bem apertado entre as mãos, como pode um ser humano amar um rato? - Uma teoria aliás, é que as crianças sabem o jeito certo de se viver. E conforme crescem, desaprendem. Adultos é que não sabem, todos deveriam ser capazes de amar um ratinho sujo, e chorar quando ele estivesse morrendo.
-Quer por ele no microondas? Pode esquentar...
A criança teve a seguinte epifania; Meu pai é de papel-alumínio!
Então começou chorar ainda mais por descobrir que a seriedade que ela tentava imitar, na verdade, não existia. Pura faixada. E adorou isso.
Talvez o homem soubesse viver, afinal.
Não é preciso dizer o ataque que a mãe teve quando viu um adulto e uma menininha colocando um ratinho no microondas, mas não importa. Talvez todos naquela casa amassem o ratinho. Que mais não fosse, amavam a criança. No final ficaram todos os três na frente do microondas fazendo uma contagem regressiva cerebral. Foi o momento que mais chegou perto de uma espécie de perfeição familiar, e durou 10 segundos.
Meu pai é de papel-alumínio.
E antes de verificarem o resultado, o pai passou o braço pela ombro da menina e disse 'Se ele morrer, não precisa chorar. Você foi uma boa dona, e esses bichinhos tem mesmo esse desagradável costume de morrer.' e deu um sorriso meio de quem não tem jeito pra sorrir.
Acredito até que seja o mais bonito que tem.
E o ratinho viveu. Mas todo mundo sabe que não teve nada a ver com o microondas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Quebrei.

Sentiu cheiro de chuva. Abriu a janela pra deixar um pedaço do céu entrar.
Não entrou.
Pensou em todos os motivos para todas as coisas sem usar o cérebro. Não, não, é uma outra coisa que se usa, como uma espécie de essência, pra essas coisas que não são pensadas.
Era um menininho triste por um corte de cabelo errado.
Era a mesma tristeza de todas as outras pessoas do mundo. [só que por um motivo menor]
Era uma futura tarde de quinta chuvosa.
A essência dele era uma sopa borbulhante agora, toda a quinta-feira era uma sopa borbulhante agora, de fato, só uma criança conseguiria tal proeza. Mexer toda a vidinha besta em uma tigela grande e fazer ferver. E nunca deixa de ser engraçado como uma criança explode por pouco. [só quando os adultos explodem por coisas menores]
-Para de reclamar, sabe quantos menininhos da África não têm uma mãe que corte o cabelo deles?
-Então eles têm muita sorte!- que se fodam os menininhos da África, ele pensou, eu nem sei onde fica a África. Que se fodam.
Chorou e dormiu, como de praxe. Mas o que importa é o choro em si. É o mesmo choro dos menininhos da África. O mesmo choro meu e seu, por exemplo. Pessoas são previsíveis, aí é que está. Depois, o sono.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

tanto tempo!

mas todo mundo sabe como é difícil pra mim não te ver como alguém tão adorável.