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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Amélia

Amélia era uma daquelas mulheres intensas. Gostava de tudo bem salgado ou bem doce, bem forte, bem sentido, bem devagar. Não que fosse 'quente ou frio, ama ou odeia, toca ou não toca, 8 ou 80', ela até gostava do morno, o problema é que Amélia queria todos os prazeres da vida, e queria todas as dores também, de tanto que gostava de sentir.
E Amélia fazia drama e Amélia pulava de para quedas e Amélia fazia sexo com estranhos e viajava e ria e invadia festas e chorava e ficava bêbada e vivia
Amélia vivia.
Mas um dia Amélia sentiu tanto, mas tanto,
que morreu de sentir.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Que teu afeto me afetou, é fato.

...E o tanto que eu vou salvar
Das conversas sem pressa
Das mais bonitas mentiras.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Reduzir-se.

Perceber que, não importa o quão grande seja seus problemas ou quanto estrago façam em você e a todos ao seu redor, eles nunca serão grandes o suficiente pra mudar qualquer coisa no universo, no tempo, na vida. Aceitar que todas as coisas são muito maiores e vão muito além da compreensão de qualquer humano e qualquer deus, reduzir-se a toda nossa absoluta insignificância, é a verdadeira solução para qualquer coisa.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um ratinho semi-morto, uma criança e um pai de papel-alumínio.

Era uma vez um ratinho.
Era uma vez uma menininha de 6 anos que nunca chorava.
Era uma vez um pai bravo, ocupado e recluso.
Um dia [frio] o ratinho ficou semi-morto, e a menininha chorou. Ele vai morrer, mas ratos são tão fraquinhos e morrem bem rápido, afinal. Mas é certo que as lágrimas tem vontade própria, e insistem em escorrer quando a gente não quer que ninguém veja, só pra mostrarem que existem, e escorreram. Na frente do pai bravo cuja seriedade a menina tentava imitar. Ela estava com um corpinho frio tremendo bem apertado entre as mãos, como pode um ser humano amar um rato? - Uma teoria aliás, é que as crianças sabem o jeito certo de se viver. E conforme crescem, desaprendem. Adultos é que não sabem, todos deveriam ser capazes de amar um ratinho sujo, e chorar quando ele estivesse morrendo.
-Quer por ele no microondas? Pode esquentar...
A criança teve a seguinte epifania; Meu pai é de papel-alumínio!
Então começou chorar ainda mais por descobrir que a seriedade que ela tentava imitar, na verdade, não existia. Pura faixada. E adorou isso.
Talvez o homem soubesse viver, afinal.
Não é preciso dizer o ataque que a mãe teve quando viu um adulto e uma menininha colocando um ratinho no microondas, mas não importa. Talvez todos naquela casa amassem o ratinho. Que mais não fosse, amavam a criança. No final ficaram todos os três na frente do microondas fazendo uma contagem regressiva cerebral. Foi o momento que mais chegou perto de uma espécie de perfeição familiar, e durou 10 segundos.
Meu pai é de papel-alumínio.
E antes de verificarem o resultado, o pai passou o braço pela ombro da menina e disse 'Se ele morrer, não precisa chorar. Você foi uma boa dona, e esses bichinhos tem mesmo esse desagradável costume de morrer.' e deu um sorriso meio de quem não tem jeito pra sorrir.
Acredito até que seja o mais bonito que tem.
E o ratinho viveu. Mas todo mundo sabe que não teve nada a ver com o microondas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Quebrei.

Sentiu cheiro de chuva. Abriu a janela pra deixar um pedaço do céu entrar.
Não entrou.
Pensou em todos os motivos para todas as coisas sem usar o cérebro. Não, não, é uma outra coisa que se usa, como uma espécie de essência, pra essas coisas que não são pensadas.
Era um menininho triste por um corte de cabelo errado.
Era a mesma tristeza de todas as outras pessoas do mundo. [só que por um motivo menor]
Era uma futura tarde de quinta chuvosa.
A essência dele era uma sopa borbulhante agora, toda a quinta-feira era uma sopa borbulhante agora, de fato, só uma criança conseguiria tal proeza. Mexer toda a vidinha besta em uma tigela grande e fazer ferver. E nunca deixa de ser engraçado como uma criança explode por pouco. [só quando os adultos explodem por coisas menores]
-Para de reclamar, sabe quantos menininhos da África não têm uma mãe que corte o cabelo deles?
-Então eles têm muita sorte!- que se fodam os menininhos da África, ele pensou, eu nem sei onde fica a África. Que se fodam.
Chorou e dormiu, como de praxe. Mas o que importa é o choro em si. É o mesmo choro dos menininhos da África. O mesmo choro meu e seu, por exemplo. Pessoas são previsíveis, aí é que está. Depois, o sono.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

tanto tempo!

mas todo mundo sabe como é difícil pra mim não te ver como alguém tão adorável.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

“Seres humanos nunca pensam por si mesmos, acham muito desconfortável. Na maior parte, os membros de nossa espécie simplesmente repetem o que lhes é dito – e ficam aborrecidos quando expostos à qualquer ponto de vista diferente. O traço característico humano não é o conhecimento mas a conformidade, e a característica resultante é a guerra religiosa. Outros animais lutam por território ou comida; mas, singularmente no reino animal, os seres humanos lutam por suas ‘crenças.’ A razão é que as crenças guiam o comportamento, que tem uma importância evolucionária entre os humanos. Mas numa época onde o nosso comportamento pode nos levar à extinção, não vejo razão para assumir que temos qualquer conhecimento. Somos conformistas teimosos e auto-destrutivos. Qualquer outro ponto de vista da nossa espécie é apenas uma ilusão auto-congratulatória.”
Michael Crichton em “O Mundo Perdido”

sábado, 12 de junho de 2010


Por Sarolta Bán.